"Eu, cada vez que vi você chegar, me fazer sorrir e me
deixar, decidido eu disse: nunca mais. Mas novamente estúpido provei desse doce
amargo, quando eu sei.
Cada volta sua o que me faz, vi todo o meu orgulho em sua
mão, deslizar, se espatifar no chão, eu vi o meu amor tratado assim.
Mas basta agora o que você me fez. Acabe com essa droga de
uma vez! Não volte nunca mais pra mim.
Eu, toda vez que vi você voltar, e pensei que fosse pra
ficar. E mais uma vez falei que sim, mas já depois de tanta solidão... Do fundo
do meu coração, não volte nunca mais pra mim!
Se você me perguntar se ainda é seu, todo meu amor, eu sei
que eu, certamente vou dizer que sim
Mas já depois de tanta solidão, do fundo do meu coração, não
volte nunca mais pra mim!"
(Adriana Calcanhoto, Erasmo Carlos ou Roberto Carlos, não
tenho certeza da autoria)
Seus pesadelos ainda me assombram. Ainda não é uma nuvem que
passou. Ainda é um pavor que há pouco vivi. E o que se faz com o amor que já
não é mais? Porque dele só ficaram as sombras, os medos e os choros. De que
adianta aquelas sorrisos se eles já foram apagados? Não consigo mais me lembrar
deles. Não consigo me lembrar mais do que foi bom. Só me restaram os pesadelos.
E de repente o lugar pra onde eu fugia quando eu tinha medo, é de onde eu mais
quero fugir.
Cada volta, cada palavra, cada reconciliação só me fazem
lembrar um coração partido e machucado. Só me deixam sentir as cicatrizes ainda
vivas, que parecem sagrar.
Você não me traz mais sonhos, você me assombra. Você vem só
para estragar tudo o que de bonito vem se instalando em mim. De você só ficou a
marca do ódio, de um coração apodrecido, que fede a rosas de velório.
Te dei rosa, mas esse cheiro não pôde ficar em suas mãos,
porque o podre que tinha nelas era forte demais para ser apagado. E você, nem
rosas tinha que pudesse oferecer. Seus presentes eram diferentes.
Lembra que eu seria mais feliz longe de você? Acho que é
doloroso demais aceitar isso, não?
Eu te entendo, no seu lugar pensaria o mesmo. Mas mesmo
entendendo, não te perdoo. Você não tem mais o direito de tirar minhas
lagrimas. Elas já secaram para você. A sua página já virou e a sua perspicácia
usa ainda da única maneira de me alcançar: através das assombrações.
Do fundo do meu coração, não volte nunca mais pra mim.
Porque depois que você apareceu em forma de pesadelos, de
manchas pretas, de ódio e das piores coisas que restaram, eu chorei. Não por
você, mas por lamentar me permitir ser tão indefesa assim. Por me permitir ter
deixado o meu coração em suas mãos tão fácil e burramente. E agora que me
devolveu, o cheiro de podre veio com ele e tem sido um sacrifício ímpar
tirá-lo.
Mas só queria que soubesse que estou limpando. Que sua
festa, sua podridão e os seus pesadelos que me vem assombrar já estão passando.
Já encontrei o meu refúgio. Já encontrei o cheiro de rosas e alguém para colhê-las
e oferecê-las. Já encontrei um lugar seguro para poder encostar a cabeça e para
me dizer que vai ficar tudo bem. Já encontrei o que me faça valer o dia. Que
façam os outros serem os outros e só.
E aos poucos o terror vai passando. E com tempo isso vai
virando um mancha escura lá no início do caminho.
Aos poucos vou te apagando. Vou virando tantas páginas que
nem vou lembrar mais a que capítulo pertenceu. E logo você não será nada.
Adeus.