terça-feira, 17 de maio de 2011

"Eu gosto da sensação de estar me recuperando de uma gripe"

Quem já usou o Orkut sabe que logo na página inicial é possível dar uma “geral” sobre o perfil respondendo algumas perguntas preparadas pela equipe do site. Dentre elas, há uma bem interessante: O que você gosta de fazer? Do que você mais gosta? Algo do tipo. Um amigo meu respondeu o seguinte: “Gosto quando estou esperando o ônibus e ele chega rápido!”. Perfeito! É o alívio somado à satisfação da esperança saciada. Quase um orgasmo coletivo, por conta de um coletivo… (isso foi pésimo!)  
Logo lembrei-me de uma antiga amiga/ficante/peguete que me fez pergunta semelhante quando estávamos nos conhecendo. Coisas como “donde cê rem”, “donde cê mora”… E por aí vai… Eu respondi que gostava da sensação de estar me recuperando de uma gripe. Ela me olhou com uma cara de quem assiste a uma cena de filme pornô protagonizada entre o Cauby Peixoto e a Roberta Miranda; exatamente esta cara que você fez agora, não sabe se ri, não sabe se chora. Expliquei-lhe que a sensação de ressurgimento, de recuperação, é muito gratificante. Ela concordou, mas me disse que o melhor mesmo era estar sempre bem e fez uma cara de quem assiste a uma cena de filme protagonizada entre o Luciano Huck e a Angélica (casalzinho insosso, né? Tenho certeza que você torceu a boca e franziu a testa). 
Não sou louco a ponto de dizer que não seria melhor estar sempre bem, mas será que alguém consegue estar sempre bem? Sempre há uma conta, uma palavra, situação, sinal fechado, tempo nublado, diarréia, fio de cabelo (não uso paletó, ainda bem) que “atrapalham” nossa plenitude. Sabendo disso, contra-argumentei para a amiga/ficante/peguete: já que não sou imune e a dor é inevitável, que eu encontre uma forma de sentir prazer, mesmo com a dor. O alívio de conseguir me recuperar e o tempo de molho por conta da doença me faziam pensar no que realmente importa na vida. Me faziam sentir confiança em mim mesmo e seguir em frente. Me faziam dar muito mais valor ao que eu tinha.
Ela arregalou os olhos, deu um suspiro e fez uma cara de quem assiste a uma cena de filme pornô protagonizado entre o Paulo Zulu e a Sheila Carvalho (entendam, tenho 32 anos…). Ela finalmente entendeu a questão. Encerramos a conversa. Protagonizamos nosso próprio filme. Vi em algum lugar que a dor, em qualquer de suas esferas, é a mais eficiente forma de aprendizado. Concordo plenamente.
Ela nos faz parar pra pensar no que realmente importa, o que realmente se quer nesta passagem pela terra. Já já iremos embora, mas em tão pouco tempo conseguimos criar tantos problemas, tantas mágoas, que as reencarnações tornam-se eventos de progressão geométrica. Estou tentando me recuperar de um relacionamento extremamente complicado, cheio de dúvidas, brigas, orgulhos, angústias… Ambos erramos, ambos amamos demais, e, agora, ambos pagamos caro por isso. A dor tem-me feito repensar tudo que aconteceu neste último relacionamento, mas também me leva a tempos mais remotos. Percebo que o problema não sou eu, ou ela… a questão é coletiva, é universal. Todo mundo está insatisfeito, seja com uma conta, uma palavra, situação, sinal fechado, tempo nublado, diarréia, fio de cabelo (lembra da música do Chitãozinho… ?) Em relacionamentos anteriores eu também tinha problemas parecidos, com mulheres diferentes…eu continuo sozinho, elas também… É preciso saber viver, pois se até mesmo o rei não tem Maria Rita, imagine eu querer Fulana de volta? O Japão tá lascado, Kadáfi encurralado, o Sport investindo em pecuária e eu preocupado com meu mundinho… grande bobagem! Está sendo difícil, a dor tem sido uma companheira insaciável. Mas, como a gripe, resurgirei melhor, mais forte e com menos problemas agregados (eu espero). 
Mário Figueirôa

Nenhum comentário:

Postar um comentário