quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Restos

Na verdade gostaria que ele encontrasse todos os pedaços de mim dentro de alguma gaveta esquecida de seu quarto. Que ele não tivesse deixado de me amar, ou que ele nunca tivesse me amado, ou ainda que eu nunca tivesse acreditado – assinale a alternativa menos humilhante.


Como desejei poder encontrar o "nós" desaparecido! Mas parecia que o "nós" não estava apenas ausente. Estava morto. Os segundos viraram dias, os dias semanas, meses e agora lembranças. Inferno.
Supere isso e, se não puder supe­rar, supere o vício de falar a respeito. E se eu não quiser superar, eu não vou a nenhum lugar. A maior dor não é por ainda estar respirando, mas sim porque preciso deixar que ele saia de mim, expulsa-lo. Como ele fez. Afinal, estamos longe. Abandonar o passado é realmente um sacrifício tão doloroso quanto olhar pro lado e não vê-lo. Porque eu sei que se esquecê-lo estarei o perdendo para sempre.
Foi assim, meu amor todo para ele, por ele e com ele. O estrago entre minhas entranhas não me deixa dormir. E tudo porque não coube mais nada entre nós, nem as palavras. Porque o amor me cala.


Caio Fernando Abreu, o cara!

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