Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
A mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar num canto e eles no outro, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e eles para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-los, eles o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Martha Medeiros, Adaptado.
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